O fluxo é a coerência na mente.
Fluxo é o desenvolvimento fácil e natural de nossa vida, de uma forma que nos leva à totalidade e à harmonia.
O fluxo tem um enorme poder transformador sobre nossas vidas. Como a água, é dinâmico e tranqüilo, forte e receptivo, perseverante e complacente. Não podemos impelir ou forçar o fluxo, da mesma forma como não podemos fazer isso com um rio; suave e sempre, ele segue seu curso. O fluxo diz respeito a ser parte de algo maior que nós.
Temos uma noção intuitiva dessa inter-relação. Mesmo não possuindo nenhuma crença formal em um poder maior, a idéia de estarmos relacionados com uma força dinâmica superior a nós se revela em uma expressão comum, cotidiana: “estar na sintonia certa”.
O fluxo é caracterizado por dois tipos de ocorrência: sincronicidade e eventos casuais.
Sincronicidade é um termo cunhado por Carl Jung. A idéia de que tudo tem uma causa concreta está tão entranhada em nossa mentalidade ocidental moderna que Carl Jung – https://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung precisou de muita coragem para abordar o tema da sincronicidade. Ele só discutiu o assunto a fundo aos oitenta anos de idade, quando, como escreveu no prefácio do I Ching, “as constantes mudanças de opinião dos homens já não me impressionam mais”.
Do modo como Jung a definiu, a sincronicidade muitas vezes assume a forma de uma conjunção de um evento externo e outro interno de uma maneira que provoca um impacto emocional ou psicológico sobre nós e que nos dá a sensação de fazermos parte de um todo maior.
Eventos casuais acontecem quando as coisas se conjugam de formas incrivelmente boas e eles podem ser explicados por causa e efeito.
Cada um de nós tem a sua rota pessoal para o fluxo.
Vivenciamos o poder do fluxo quando:
- As coisas fazem sentido, os obstáculos desaparecem e qualquer coisa de que precisamos – dinheiro, tempo, pessoas, oportunidades – aparece conforme a necessidade.
- Nos descobrimos no lugar certo, na hora certa, fazendo a coisa certa. Para entrarmos no fluxo precisamos nos conhecer profundamente.
- O senso de oportunidade perfeito facilita as atividades de longo prazo e cotidianas. Com o poder do fluxo, uma coisa leva a outra sem desperdício de tempo ou esforço. Às vezes o senso de oportunidade perfeito ocorre graças ao que parecem ser problemas.
- A vida se desenvolve como um processo dinâmico. Seguimos nossa intuição e esperamos o feedback da vida. Aprendemos a saber quando agir e quando esperar; quando avançar e quando retroceder. Fazemos o melhor em qualquer coisa a que nos dediquemos, e acreditamos que o que acontece é o que deveria acontecer. Então, livres da impaciência, da culpa e da ansiedade, vemos com prazer como os eventos se desenrolam melhor do que havíamos esperado.
- Acontecimentos e atitudes se encadeiam em um padrão coerente de harmonia profunda e ordem subjacente. Notamos que tudo que fazemos importa. Nesse esquema maior de coisas, nosso trabalho ganha uma importância extra: ele é nossa contribuição singular, inigualável. Vivenciamos essa ordem subjacente de outra maneira quando vemos como atitudes que tomamos nas áreas física, mental, emocional e espiritual de nossas vidas podem criar eventos paralelos no mundo externo. Tornamo-nos mensageiros do fluxo – veículos para as sincronicidades das outras pessoas.
- Os eventos externos se ligam a nossos pensamentos e sentimentos, dando-nos a sensação de participar do universo. Vivenciamos a interação entre nós e o universo e as linhas que nos separam dos outros desaparecem. Sentimo-nos profundamente unidos a todos e a tudo. Vemos as outras pessoas – inclusive a nós mesmos – em um processo de aprendizagem e crescimento e não as julgamos nem depreciamos. A luta desaparece; em seu lugar surgem a cooperação e a tranqüilidade. Estamos abertos para o que quer que o universo nos traga. Estamos prontos para fazer a nossa parte.
O fluxo torna nossas vidas repletas de sentido, propósito e tranqüilidade. E o melhor de tudo, sua porta de entrada é muito acessível – a sincronicidade, que podemos ver claramente em ação em nossas vidas, uma vez que entendamos como se apresenta.
Antes de Jung, o biólogo austríaco Paul Kammerer documentou outro tipo de coincidência, a que chamou de serialidade, na qual as coisas se repetem ao longo do tempo.
Quando falamos em sincronicidade, baseamo-nos na definição de Jung – Sincronicidade é a conjunção de eventos internos e externos de uma forma que não pode ser explicada por causa e efeito e que é significativa para o observador. – e incluímos em nossas discussões o reconhecimento, por parte de Kammerer, da serialidade como uma forma de coincidência significativa, que, embora não fosse levada em conta por Jung, é encontrada em situações como a repetição sugestiva de músicas, números e palavras ou expressões.
https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Kammerer
Reconhecendo a sincronicidade
Sincronicidade não é uma palavra com a qual estamos acostumados. Pesquisadores da comunicação descobriram que quando não possuímos uma palavra para um objeto ou conceito, não conseguimos identificá-lo. Quando a sincronicidade acontece muitas pessoas não a percebem ou a denominam de outra forma. Elas podem dizer “tive sorte”, “isso aconteceu na hora H”, “foi totalmente inesperado” ou “simplesmente surgiu no meu caminho”. Depois, quando perguntadas se já vivenciaram alguma sincronicidade, elas não conseguem se lembrar de nenhuma. Todos aqueles incidentes são guardados em suas memórias, mas nas categorias de sorte ou acaso.
Vivenciamos a sincronicidade mais freqüentemente quando estamos receptivos e atentos, estados que, por sua vez, também são influenciados pelas condições externas nas quais nos encontramos e pelas condições interiores nas quais nos colocamos.
A sincronicidade é um poderoso ponto de entrada para o fluxo. Prestando atenção a ela, podemos fazer da alegria do fluxo a regra em vez da exceção em nossas vidas. A sincronicidade tem essa capacidade propulsora por produzir dois efeitos simultâneos: nos leva em direção à individualização e à completa expressão de nossa singularidade e nos coloca em contato com um todo maior. Quando nosso autoconhecimento atinge níveis mais profundos, somos capazes de ir além de nós mesmos para estabelecermos ligações significativas com as outras pessoas e com o universo. E, em contato com o universo, estamos no fluxo.
A sincronicidade nos conduz a maior autoconsciência, auto-aceitação e auto-expressão. Funciona assim porque vemos significado em uma “coincidência”. O significado não “acontece” simplesmente – ele é uma questão de escolha e atitude de cada um. Quando decidimos ver significado na simultaneidade de eventos, deixamos a porta totalmente aberta para a sincronicidade- e, portanto, para o poder do fluxo.
Os psicólogos descrevem a busca pelo significado como um de nossos principais impulsos. As pessoas que vêem significado em suas vidas são felizes, produtivas e realizadas.
Para alcançar níveis mais profundos do fluxo, no entanto, é preciso algo além da sincronicidade, pois ela é uma sinalizadora do fluxo e nos leva em direção a ele; porém, não podemos criá-la ou procurá-la diretamente. O que podemos fazer é viver de um modo em que a sincronicidade seja um resultado natural, fácil. Para fazer isso é preciso mudar nossas atitudes, crenças e comportamento a fim de dar as boas-vindas ao fluxo em nossas vidas.
Otimismo
Martin Seligman define o otimismo em termos de como as pessoas explicam a si mesmas seus sucessos e insucessos. Os otimistas vêem um fracasso como devido a algo que pode ser mudado, para que possam vencer da próxima vez , enquanto os pessimistas assumem a culpa pelo fracasso, atribuindo-o a alguma imutável característica pessoal.
Essas diferentes justificativas têm profundas implicações sobre como as pessoas reagem à vida. Por exemplo, como a resposta a uma decepção como a rejeição num emprego, os otimistas tendem a reagir ativa e esperançosamente, formulando um plano de ação, por exemplo, ou buscando ajuda e aconselhamento; vêem o revés como uma coisa que pode ser remediada. Os pessimistas, ao contrario, reagem a esses reveses supondo que nada podem fazer para que as coisas melhorem na próxima vez, e, portanto nada fazem em relação ao problema; justificam os reveses por alguma falha pessoal que sempre os perseguirá.
Nossas preocupações se tornam profecias autoconcretizantes, impelindo-nos para o próprio desastre que predizem.
As pessoas capazes de canalizar suas emoções, por outro lado, podem usar a ansiedade antecipatória – sobre um discurso ou teste próximos, digamos – para motivarem-se a prepararem-se bem para a tarefa, com isso saindo-se bem.
Os estados de espírito positivos, enquanto duram, aumentam a capacidade de pensar com flexibilidade e mais complexidade, tornando assim mais fácil encontrar soluções para os problemas, intelectuais ou interpessoais. Isso sugere que uma das maneiras de ajudar alguém a solucionar um problema é contar-lhe uma piada. O riso, como a euforia, parece ajudar as pessoas a pensar com mais largueza e a fazer associações de forma mais livre, percebendo relações que de outro modo poderiam ter-lhes escapado – uma aptidão mental importante não apenas na criatividade, mas para reconhecer relacionamentos complexos e prever as conseqüências de uma determinada decisão.
As pessoas muito autoconfiantes estabelecem para si mesmas metas mais altas e sabem como se esforçar para atingí-las. Quando comparamos pessoas de aptidão intelectual equivalente nos rendimentos acadêmicos, o que os distingue é a esperança. A esperança é mais do que uma visão ensolarada de que tudo vai dar certo.
A esperança é a capacidade de “acreditar que se tem a vontade e os meios de atingir as próprias metas, quaisquer que sejam”.
Pessoas com altos níveis de esperança têm certos traços comuns, entre eles o poder de motivar-se, sentir-se com recursos suficientes para encontrar meios de atingir seus objetivos, tendo a certeza, mesmo diante de uma situação difícil, de que tudo vai melhorar, de ser flexível o bastante para encontrar meios diferentes de chegar às metas, ou trocá-las se não forem viáveis, e de ter a noção de como decompor uma tarefa grande em outras menores, mais fáceis de serem manejadas.
Otimismo e esperança , assim como o sentimento de impotência e desespero, podem ser aprendidos. Por trás dos dois está uma perspectiva que os psicólogos chamam de auto-eficácia, a crença de que somos capazes de exercer controle sobre os fatos de nossa vida e de que podemos enfrentar os desafios que surgirem.
O desenvolvimento de qualquer tipo de aptidão fortalece o senso de auto-eficácia, tornando a pessoa mais disposta a assumir riscos e buscar maiores desafios. E a vitória que obtemos sobre esses desafios, por sua vez, aumenta o sentimento de auto-eficácia. Essa atitude torna mais provável que as pessoas usem melhor quaisquer aptidões que tenham – ou fazerem o necessário para desenvolvê-las.
Fluxo: a neurologia da excelência
Um compositor descreve os momentos em que sua arte atinge o ponto mais alto:
Nós entramos num tal nível de êxtase que parece que não existimos. Tive essa sensação varias vezes. Minha mão parece ser independente de mim, e nada tenho a ver com o que se passa. Simplesmente fico ali observando, em estado de respeito e encantamento. E a coisa simplesmente flui por si mesma.
Sua descrição é muito semelhante à de centenas de diferentes homens e mulheres – alpinistas, campeões de xadrez, médicos, jogadores de basquete, engenheiros, gerentes, e até mesmo arquivistas – quando falam de um momento em que se superaram em determinada atividade. O estado que descrevem é chamado de “fluxo” por Mihaly Csikszentmihalyi, psicólogo da Universidade de Chicago que coletou essas historias de máximo desempenho em duas décadas de pesquisa. Os atletas conhecem esse estado de graça como “a zona”, onde a excelência vem fácil, a multidão e os competidores desaparecem numa feliz e constante absorção do momento. Diane Roffe-Steinrotter, que ganhou uma medalha de ouro em esqui nas Olimpíadas de Inverno de 1994, disse, depois da corrida, que só se lembrava de que estava imersa em total relaxamento: – Eu me sentia fluir como uma cachoeira.
A capacidade de entrar em fluxo é a inteligência emocional no ponto mais alto; o fluxo representa, talvez, a última palavra na canalização das emoções a serviço do desempenho e do aprendizado. No fluxo, as emoções são não apenas contidas e dirigidas, mas positivas, energizadas e alinhadas com a tarefa que está sendo realizada. O fluxo ( ou um mais brando microfluxo) é uma experiência pela qual quase todo mundo passa às vezes, sobretudo quando no máximo desempenho ou indo além dos limites anteriormente alcançados. Talvez seja mais bem captado pelo ato do amor extático, a fusão de dois num fluir harmônico.
Essa experiência é gloriosa: o sinal característico do fluxo é uma sensação de alegria espontânea, e mesmo de êxtase. Por ser tão bom, é intrinsecamente compensador. É um estado em que as pessoas ficam absolutamente absortas no que estão fazendo, dando atenção exclusiva à tarefa, a consciência em fusão com os atos. Na verdade, pensar demais no que está acontecendo causa interrupção no fluxo – até a idéia “Como estou fazendo isso maravilhosamente” pode interromper o fluxo. A atenção fica tão concentrada que as pessoas só têm consciência da estreita gama de percepção relacionada com o que estão fazendo, perdendo a noção de tempo e espaço.
O fluxo é um estado de auto-abandono, o oposto da ruminação e preocupação: em vez de perder-se em cuidados nervosos, as pessoas em fluxo se concentram tanto no que estão fazendo que perdem toda a autoconsciência, deixando de lado as pequenas preocupações – saúde, contas, até mesmo o bem-estar – da vida diária. Nesse sentido, os momentos de fluxo são abnegados. Paradoxalmente, a pessoa em fluxo exibe um controle absoluto sobre o que está fazendo, as reações perfeitamente sintonizadas com as cambiantes exigências da tarefa. E, embora atuem no ponto mais alto quando em fluxo, não se preocupam com seu desempenho, com a questão de sucesso ou fracasso – o que as motiva é o puro prazer do ato em si.
Há varias maneiras de entrar em fluxo. Uma delas é manter, de forma deliberada, uma aguda atenção no que está sendo feito; a essência do fluxo é um estado de alta concentração.